Vila a 50 quilômetros da capital atrai visitantes por seu passado histórico, festivais e um roteiro de trilhas
Não é preciso embarcar em um avião para trocar a correria paulistana pelo sossego de uma vila com aura inglesa. Da Estação da Luz parte o trem chamado Expresso Turístico, que leva os passageiros à charmosa Paranapiacaba. Agradável, o trajeto de 48 quilômetros corta a região do ABC e segue em direção à Serra do Mar, passando pela rota do café. Ruas estreitas, casario de madeira e a neblina que surge nos fins de tarde compõem o ambiente desse destino histórico, que é um distrito de Santo André.
Em 1867, dezenas de britânicos desembarcaram no Brasil para iniciar a construção da primeira estrada ferroviária paulista. Junto de outros imigrantes e também brasileiros, eles se instalaram na região, em meio à rota que ligava Jundiaí ao Porto de Santos. Até hoje estão lá ícones dessa época, como o Castelo, uma construção em estilo vitoriano localizada no alto de uma colina, o maquinário do relógio da Estação Alto da Serra e o Clube União Lyra Serrano, uma das últimas edificações feitas pelos britânicos. Emoldurado pela Mata Atlântica, o lugar também abriga um roteiro de trilhas e a primeira reserva biológica da América Latina. O cambuci, fruto azedinho oriundo das matas, tem um festival dedicado a ele que atrai cerca de 20 000 visitantes no mês de abril. Abaixo, confira onze razões para visitar Paranapiacaba:
1. Expresso Turístico: a viagem, feita a bordo de uma
composição de dois carros de aço puxados por locomotiva a diesel, tem
atmosfera característica dos anos 1950. Com duração de 1h30, parte
pontualmente às 8h30, da Estação da Luz, aos domingos (passagem a 39,50
reais para uma pessoa e 59,50 reais para dois |
www.cptm.sp.gov.br).
O passeio costuma ter bastante procura nas férias e em feriados
prolongados: ao caminhar pelos vagões ouve-se uma profusão de sotaques
paulistanos, interioranos, de outros estados e línguas estrangeiras como
alemão e francês.
2. Estação ferroviária: a Estação Alto da Serra foi
restaurada e hoje é o ponto de desembarque do Expresso Turístico. As
badaladas de seu relógio carregam um certo ar nostálgico: erguido em
1898, ele reproduz o icônico Big Ben e pode ser visto de longe. Por ali
também funciona o Museu do Sistema Funicular, onde é possível encontrar
trens da São Paulo Railway Company e vagões que foram usados no período
imperial para transportar D. Pedro II. Nos fins de semana, as crianças
podem se divertir com o passeio de Maria Fumaça, que percorre cerca de
1,5 quilômetro (ingresso a 5 reais). Endereço: Pátio Ferroviário, s/nº | Telefone: 2695-1151.
3. Arquitetura inglesa: caminhar pelas vielas de
Paranapiacaba, cercadas por casas que remetem a uma atmosfera britânica,
é um dos passeios mais agradáveis para os turistas. A maioria das
construções é feita em pinho de riga, madeira nobre originária do Leste
Europeu. Principal marco da parte alta da vila, a Igreja Bom Jesus de
Paranapiacaba foi erguida em 1889 e hoje é palco de missas e da Festa do
Padroeiro, a mais antiga de Santo André.
4. Museu Castelo: No topo de uma colina é possível
avistar o casarão de feições vitorianas. Datada de 1897, a edificação
era moradia do engenheiro chefe da vila, Frederic Mens. Sua localização
não é por acaso. Do alto, ele controlava todo o funcionamento da
ferrovia, bem como o trabalho dos operários no pátio de manobras. Hoje, o
lugar guarda móveis antigos, fotos, documentos e um pequeno acervo de
equipamentos ferroviários. Endereço: Caminho do Mens, s/nº | Telefone: 4439-0237.
5. Clube União Lyra Serrano: em 1903, foram construídos
dois clubes em Paranapiacaba: o Serrano Futebol Clube e o Lyra da
Serra. O primeiro era voltado para o futebol e o segundo, às artes.
Trinta e três anos depois, eles deram origem ao Clube União Lyra
Serrano, sede de óperas, exibições de filmes, bailes de máscaras e peças
de teatro. O prédio de madeira ainda hoje é reduto de eventos culturais
e sociais na vila, entre eles o Festival de Inverno e a Feira
Literária, que teve sua primeira edição no ano passado. O endereço
também reserva um espaço para os apaixonados por futebol. Registros
históricos e troféus do Serrano Atlético Clube, time formado por
trabalhadores ingleses e brasileiros da ferrovia, podem ser encontrados
por lá. Endereço: Rua Antônio Olintho, s/nº | Telefone: 4439-0109.
6. Roteiro cultural: em meio às edificações que revelam
o passado do local, existe um circuito cultural bem atrativo.
Construído em 1897 para abrigar um empório de secos e molhados, o Antigo Mercado (Avenida
Campos Salles, s/nº) chegou a funcionar também como lanchonete. Após
passar anos fechado, o prédio de belos frontões foi restaurado e
tornou-se um centro cultural que recebe exposições temporárias e
atrações do Festival de Inverno. Outro destino é a Casa Fox
(Avenida Fox, esquina com Avenida Schnoor), cuja construção caracteriza
a arquitetura do século XIX e que também recebe exposições.
7. Artesanato: a vila reúne endereços dedicados ao artesanato. No Ateliê Residência Som da Árvore (Avenida
Antonio Olyntho, 480 | Telefone: 4439-0076), o visitante pode encontrar
miniaturas em madeira das casas da região e do relógio da estação.
Francisca Cavalcante está à frente do Ateliê Residência Francisca (Rua
da Estação, 393), onde expõe e vende bonecos confeccionados a partir de
matérias-primas simples como sementes, cordas e couro. Na loja do
artista Kiko de Oliveira (Avenida Forde, 421 |Telefone: 99275-3474), que também funciona como cafeteria , estão peças e quadros feitos em madeira.
8. Festival do Cambuci: o fruto típico da Mata
Atlântica, de sabor azedo, ganha um festival dedicado a ele nos fins de
semana de abril. Galinha caipira, costela suína, tapioca e pudim, tudo
preparado com cambuci, são algumas das receitas que costumam ser
elaboradas por restaurantes, bares e casas de comidinhas especialmente
para o evento. Bebidas como licor e cachaça feitos com o ingrediente
podem ser comprados em feirinhas de produtos gastronômicos e fazem a
alegria dos turistas – cerca de 20 000 deles compareceram à 11ª edição
do festival, em 2014.
9. Festival de Inverno: nem mesmo a névoa e as chuvas
constantes costumam tirar a animação dos 100 000 turistas que visitam a
vila nos fins de semana do evento. Marina de la Riva, Wilson Simoninha,
Mariana Aydar e Nuno Mindelis pisaram no palco do Clube União Lyra
Serrano na edição passada do festival, que teve como tema o centenário
de nascimento de Dorival Caymmi. Este ano, o evento acontece nos dias
11, 12, 18, 19, 25 e 26 de julho. Além das atrações musicais,
intervenções artísticas são espalhadas pelas vielas nesse período, que
transformam Paranapiacaba em uma espécie de museu a céu aberto.
10. Trilhas: seis trilhas com diferentes níveis de
dificuldade estão espalhadas pelo Parque Natural Municipal Nascentes de
Paranapiacaba. Para os iniciantes, a Trilha da Pontinha tem um
quilômetro de extensão e seu percurso dura cerca de uma hora. Em dias de
sol, os aventureiros podem se banhar em piscinas naturais ao longo do
Rio Grande. Mais puxada, a Trilha do Mirante se estende por 1 885 metros
em uma estrada íngreme de pedra. Ao fim da caminhada, é possível
avistar o polo industrial de Cubatão e o litoral de São Paulo. Endereço: Rua Direita, 371 | Telefone: 4439-0321.
11. Carnaval: a tradição dos antigos blocos de rua e
dos bailes de máscaras é preservada durante quatro dias de folia. Este
ano, o evento começa no dia 14 de fevereiro com a matinê e o baile de
carnaval, no Clube União Lyra Serrano. A programação também inclui o
Bloco de Rua Paranafolia, formado por moradores da vila, no domingo
(15), e o Bloco das Bruacas, na segunda (16), que sai do Bar do Campo
(Avenida Forde, 528). A Banda Caxambú embala o agito da região há
quarenta anos e traz um repertório de sambas e marchinhas, assim como a
Banda Lira, fundada em 1918 e considerada patrimônio musical de Santo
André. Para os que ainda têm energia, o Lyra arma uma última matinê na
terça.
COMO CHEGAR
De carro: Se vier pela Via Anchieta, siga até o KM 29
pela pista marginal, sentido Riacho Grande. Entre na Estrada Velha do
Mar (SP-148, sentido Ribeirão Pires) e acesse a Rodovia Índio Tibiriçá
(SP 31) até o KM 45,5, na alça de acesso para a Rodovia Antobio Adib
Chamas (SP 122) até Paranapiacaba.
De ônibus: Embarque na linha 040 (Viação Ribeirão Pires) no Terminal Rodoviário de Santo André (TERSA) até Paranapiacaba.
De trem: Acesse a linha 10 Turquesa da CPTM e desça na
estação Rio Grande da Serra, de onde parte o ônibus 424 (Viação Ribeirão
Pires) com destino a Paranapiacaba.
Fonte: Veja SP