DICAS DE PASSEIO: Antiga vila inglesa, Paranapiacaba oferece trilhas para aventureiros

Vista da parte baixa de Paranapiacaba, vila inglesa erguida em 1867 para abrigar os funcionários da empresa ferroviária São Paulo Railway Co.

A região de Paranapiacaba tem mostrado seu talento para trilhas desde séculos passados. Sobre aquelas terras íngremes da Serra do Mar passaram índios sul-americanos que cruzavam o Caminho do Peabiru em direção aos Andes, insistentes padres jesuítas que subiam até o Planalto de Piratininga (que anos mais tarde seria conhecido como São Paulo) e trabalhadores europeus que ajudariam a escrever a história ferroviária do Estado.

Localizada no topo de uma falha geológica milenar que rasga a Mata Atlântica, entre São Paulo e o litoral, essa vila histórica declarada Patrimônio Nacional pelo Iphan tem se transformado também em destino para caminhadas de fácil acesso com visual cenográficos a pouco mais de 50 km da capital paulista.

Não muito longe daquelas ruas estreitas de terra e casas em estilo europeu erguidas com pinho de riga trazido da Letônia, o visitante encontra um labirinto de caminhos com mata fechada, águas claras de nascentes do Rio Grande e uma tímida fauna que inclui jaguatiricas, suçuaranas, antas e capivaras.
Atualmente, o Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba abriga seis trilhas pelo interior dessa área preservada de 426 hectares formada por um cinturão verde de Mata Atlântica, na divisa com o Parque Estadual da Serra do Mar, que alia capítulos históricos da vila.

Ao longo do roteiro é possível conhecer o sistema inglês de abastecimento que, desde o século 19, leva água para a parte mais alta da vila; a antiga estrada de pedras que chega ao topo de um mirante que abrigava as antenas da extinta TV Tupi; e os caminhos de visual panorâmico que correm em direção ao litoral de São Paulo.

“Estas trilhas não visam apenas a observação de animais. Ajudamos os visitantes a prestar atenção nos rastros deixados pela fauna local. O que vale é o lúdico”, explica Laércio Marangon, guia local conhecido por ter mais de 230 sons de aves arquivados em seu celular para atrair espécies como o tangará dançarino e o papa taoca do sul durante caminhadas de observação de animais.

Abandonada a partir da década de 80, a vila foi adquirida pela prefeitura do município de Santo André, em 2002, por R$ 2,1 milhões e, atualmente, funciona como um destino turístico com focos ambientais e históricos.

Esta vila de passado inglês às margens da estrada férrea que ligava Jundiaí a Santos surgiu em 1867 como residência para trabalhadores da São Paulo Railway Co., responsáveis pela construção da primeira estrada ferroviária de São Paulo.

O destino abriga até hoje ícones da época como a residência do engenheiro chefe, uma construção em estilo vitoriano do final do século 19, conhecida como Castelinho, localizada no alto de uma colina; o maquinário do relógio da estação local que possui (distantes) referências ao Big Ben londrino; o complexo sistema funicular de transporte por plataformas até o nível do mar; e o Clube União Lyra Serrano, uma das últimas construções feitas pelos ingleses.

Aquelas antigas estradas férreas não foram apenas vias importantes de escoamento de café para o porto de Santos como servem até hoje de acesso a uma das experiências mais nostálgicas nos arredores de São Paulo (com direito a apito de trem bem debaixo da janela que ecoa, britanicamente, todos os dias na única vila ferroviária em estilo inglês preservada do Brasil).

Conheça as opções de trilhas de Paranapiacaba
Trilha da Pontinha
Com pouco mais de 1 km de extensão, essa trilha de baixa dificuldade é recomendada para iniciantes que queiram um contato mais profundo com a Mata Atlântica. O percurso de uma hora às margens do rio Grande passa pelo antigo sistema de abastecimento de água criado pelo alemão Gustavo Hartmann e pelas escadarias de pedra onde ainda é possível ver estampadas as iniciais SPR em referência à São Paulo Railway Co. Nos dias mais quentes, piscinas naturais podem ser usadas ao longo do rio que deságua em um tanque que forma o reservatório construído por Hartmann para abastecer as áreas mais altas da vila.

Trilha das Hortênsias
A caminhada mais curta da região, um trajeto de apenas 325 metros, está localizada nos limites do Núcleo Olho D'água e abriga diversos exemplos de hortênsias. Este caminho pode ser percorrido em, aproximadamente, trinta minutos.

Trilha dos Gravatás
Esta é uma das trilhas mais curtas de toda a região, cujos 389 metros de extensão abrigam essas plantas que dão nome à caminhada e árvores com copas elevadas que garantem sombras ao longo de todo o roteiro.

Trilha do Mirante
Seus 1185 metros de extensão exigem disposição dos caminhantes para subir a estrada íngreme de pedras que um dia dava acesso às antenas de transmissão da TV Tupi. Com trechos de mata fechada que costumam ficar tomadas pela clássica (e nostálgica) neblina local, essa é uma das trilhas mais impressionantes de toda a região de Paranapiacaba. Em dias de céu claro, é possível avistar Cubatão e o litoral de São Paulo.

Trilha da Comunidade
Considerada a mais difícil de todas, essa trilha de 1568 metros de extensão é marcada por aclives acentuados que levam o caminhante até o ponto mais alto do Parque Natural Nascentes de Paranapiacaba. No local, é possível observar as ruínas de uma comunidade esotérica da década de 70 que dá nome à trilha.

Trilha da Água Fria
Localizada em um dos trechos mais preservados do parque, essa trilha de 368 metros abriga uma queda d'água que forma uma piscina natural ideal para banhos e tem acesso pela estrada do Taquarussu, próximo ao acesso à Trilha da Comunidade.

SERVIÇO
Site de Paranapiacaba: www.paranapiacaba-spr.org.br
Prefeitura de Santo André: www.santoandre.sp.gov.br

Centro de Visitantes
Rua Direita, 371
Horário de funcionamento: das 9h às 15h40 (seg. a sex.) e até às 16h45 (aos sáb., dom.; e feriados)
Tel.: (11) 4439-1323

Guias
O acesso às trilhas só é permitido com o acompanhamento de guias cadastrados que trabalham de forma autônoma ou associados à AMA (Associação de Monitores Ambientais). Os serviços de monitoria variam de R$ 10 a R$ 40, de acordo com o roteiro. Recomenda-se fazer reserva com antecedência, sobretudo nos finais de semana. Para mais informações, acesse: www.ama-paranapiacaba.org.br

Como chegar
De carro, o visitante deve pegar a Via Anchieta até o km 29, seguir pela SP 148 (Estrada Velha de Santos) e logo pela SP 31 até o km 45,5, conhecida como rodovia Índio Tibiriçá. Dali, o motorista deve seguir as placas indicativas até Paranapiacaba.


De ônibus: Embarque na linha 040 (Viação Ribeirão Pires) no Terminal Rodoviário de Santo André (TERSA) até Paranapiacaba.

De trem: Acesse a linha 10 Turquesa da CPTM e desça na estação Rio Grande da Serra, de onde parte o ônibus 424 (Viação Ribeirão Pires) com destino a Paranapiacaba.

Viajantes mais nostálgicos contam também com um serviço de trem que sai aos domingos, às 8h30, da Estação da Luz, em São Paulo. A viagem de 1h30 é feita em uma composição de dois carros puxados por uma locomotiva dos anos 50. Mais informações sobre o Expresso Turístico de Paranapiacaba: www.cptm.sp.gov.br
Aos domingos, é possível realizar também passeios curtos de 20 minutos em uma tradicional Maria Fumaça de 1914 que parte de Paranapiacaba por um trecho de um quilômetro, aproximadamente.
* O jornalista Eduardo Vessoni visitou Paranapiacaba com o apoio da Prefeitura de Santo André

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